quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Coragem, precisa-se!

«É cada vez mais provável que 2015 venha a representar um ano de viragem para o futuro da Europa.

(...)

O desemprego jovem atinge 54% em Espanha, 50% na Grécia, 34% em Portugal. A pobreza, absoluta e relativa, tem alastrado a um ponto que julgávamos já impossível na Europa. A crise eterniza-se, sem fim à vista, enquanto os direitos dos cidadãos não param de reduzir-se.

Toda esta devastação e todo este sofrimento eram e são evitáveis. Não são o resultado de um qualquer deus ex-machina, mas de escolhas políticas.

A escolha de implementar, ao longo de anos, sucessivas rondas de "reformas estruturais" destinadas a promover a "competitividade", que mais não constituem do que uma corrida para o fundo em matéria fiscal e de regulação laboral, a qual tem deixado todos atolados no pântano da desigualdade, da precariedade, da financeirização e da escassez de recursos à disposição dos Estados.

A escolha de abdicar da autonomia cambial e monetária, confiando numa mágica convergência real que faltou ao encontro e enviou em seu lugar endividamento externo galopante e divergência.

A escolha de, em face de crises de dívida pública, salvaguardar os direitos adquiridos dos credores, penalizar os cidadãos e substituir gradualmente os credores privados por empréstimos internacionais públicos de modo a que os inevitáveis defaults, quando ocorrerem, penalizem novamente cidadãos e não instituições financeiras.

A escolha de vedar institucionalmente a possibilidade do Banco Central eliminar, por via da inflação, o endividamento privado acumulado, que constitui hoje o fardo maior que pesa sobre a economia europeia.

Não são escolhas fáceis de inverter. Mas são as questões decisivas nos dias que correm e o centro político nem sequer tenta, nem sequer quer invertê-las. (...)

Mas não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe, como diz o ditado. Seria sempre uma questão de tempo até que esta economia política da estagnação e da subjugação começasse a ser posta em causa. Ao que tudo indica, isso poderá suceder em primeiro lugar na Grécia, com a possível eleição iminente do primeiro governo que promete começar a enfrentar seriamente estas estruturas de dominação .

São ainda muitas as barreiras que o Syriza tem pela frente : terá de vencer as eleições; terá de conseguir formar governo; terá de manter-se fiel, não obstante todas as pressões nacionais e internacionais em contrário, aos compromissos que o terão feito eleger. E depois disso terá de saber enfrentar as represálias das instâncias políticas e económicas que não estarão dispostas a assistir de braços cruzados a que seja posta em causa a ordem em que assenta a sua dominação.

Um tal governo, e o povo que o eleger, precisarão sobretudo de muita coragem - como outros, nós incluídos, mais cedo ou mais tarde precisarão também. E isso faz com que não seja certo que seja para já, como não é certo que a Grécia seja bem sucedida desde já. Mas nalgum momento, nalgum local, acontecerá. Porque a roda da história não pára e, mais cedo ou mais tarde, há sempre quem decida viver corajosamente.»
(Alexandre Abreu; "O ano de viver corajosamente". Na íntegra: aqui. Destaques meus.)

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Antes fosse a última



"Mensagem [de Ano Novo] de Cavaco Silva será a penúltima do seu mandato, que termina em 2016.
Uma pena que seja apenas a penúltima. Bem melhor fora que fosse já a última.
(Notícia e foto daqui)

"Bom Ano Novo"

«(...)

Neste fim de 2014, queremos que muitas coisas mudem. Não para que fique tudo na mesma, mas para que tudo mude.

Naquela espécie de maldição radiodifundida no Dia de Natal por Pedro Passos Coelho, o primeiro-ministro tratou de convencer os mais crédulos de que já vivemos no país do leite e do mel. Disse-nos que fizemos tudo bem e que correu tudo bem. Que sofremos mas atravessámos as dificuldades. Que está tudo bem agora e que tudo vai ficar ainda melhor. Que o futuro está aberto diante de nós. Disse-nos que não há nada mais a desejar do que este presente e que este presente é bom. Orwell teria ficado em pânico se o tivesse ouvido, aterrado com a presciência de “1984”. Mau é bom, pobre é próspero, desigualdade é igualdade.

Passos Coelho apostou, como faz sempre, no medo. No medo do desconhecido, no medo do futuro. Ameaçou em voz suave que, se os portugueses não fizerem a escolha certa nas próximas eleições, podem deitar tudo a perder. Tudo? A dívida crescente? A pobreza crescente? A desigualdade crescente? A educação e a ciência no caos? Não importa o conteúdo. A mensagem do medo não exige racionalidade e foge da verdade como o diabo da cruz. Sabemos que não queremos isto.

Neste fim de 2014, dizer “Bom Ano Novo” tem um significado especial porque significa que desejamos algo muito diferente e que temos a coragem de o escolher, em Portugal e noutros países. Sabemos que temos de ter a coragem de escolher algo que não existe pré-fabricado e que vamos ter de o fabricar com as nossas mãos. Sabemos que a política entrou num beco sem saída, com partidos capturados por lógicas clientelares e transformados em centrais de corrupção. Sabemos que a governação entrou num beco sem saída, com o Estado capturado por interesses privados. Sabemos que a democracia entrou num beco sem saída, reduzida a eleições que pouco ou nada mudam. Sabemos que a União Europeia entrou num beco sem saída, couraçada com tratados jurídicos antidemocráticos que instituem a regra dos mais fortes. Sabemos que a economia entrou num beco sem saída, com a acumulação de capital em cada vez menos mãos.

E sabemos que a única maneira de sair deste becos é com imaginação e arrojo, com a coragem de fazer diferente.

Bom Ano Novo.»
(José Vítor Malheiros - "Mudar tudo para que tudo mude". Na íntegra: aqui)

domingo, 28 de dezembro de 2014

"Um fracasso monumental e trágico"

«É preciso muita desfaçatez da direita para se apresentar como "salvadora do descalabro financeiro da pátria".


O atual Governo de direita gosta de se apresentar como tendo recebido o país à beira da bancarrota e tendo tido, desde então, de aplicar várias medidas de extraordinária dureza numa espécie de operação patriótica de salvamento do país do colapso financeiro. Todavia, exceção feita à pressão dos mercados de capitais e das agências de rating sobre a dívida portuguesa, do ponto de vista dos fundamentais da economia a situação é hoje muito mais problemática do que em 2011. Mais, para alcançar tais míseros resultados foram cometidos vários atropelos à democracia, à Constituição e aos direitos fundamentais dos cidadãos; e foram alienados muitos recursos estratégicos do país.

Tudo isto torna pertinente e oportuna a questão: para que terão servido tantos sacrifícios e tantos atropelos? Aliás, não há melhor indicador do fracasso monumental que estamos a viver do que o facto de, em ano eleitoral, um Governo de direita se preparar para baixar impostos só às empresas, mas continuando (tudo somado) a aumentar a carga fiscal dos assalariados, pensionistas e consumidores (ver os cálculos do economista Eugénio Rosa a partir dos números do OE), já para não falar na permanência (aqui ou ali suavizada por pressão do TC) das "medidas extraordinárias" (quatro ou cinco anos depois da primeira implementação...). 


Comecemos pelo fracasso nos resultados. Primeiro, temos a cavada e prolongada recessão económica: o PIB estagnou em 2008, 0,0%, decresceu -2,9% em 2009, -1,7% em 2011, -3,2% em 2012, e -1,4% em 2013. Com estas taxas negativas dificilmente a dívida do país é reembolsável e o Estado social é sustentável. Segundo, temos o fortíssimo crescimento do desemprego: 8,5% da população ativa em 2008, 10,6% em 2009, 12,0% em 2010, 12,9% em 2011, 15,7% em 2012, cerca de 16,5% em de 2013. Ou seja, temos aqui um problema social e politicamente intolerável, por um lado, e que coloca uma pressão insustentável nas contas da Segurança Social, por outro. Finalmente, temos a evolução muito preocupante e dificilmente sustentável e reembolsável da dívida pública: 71,7% do PIB em 2008, 83,7% em 2009, 93,5% em 2010, 108,1% em 2011, 123,6% em 2012, e cerca de 129,0% no final de 2013; este ano estima-se que se quede acima dos 130% do PIB. Aliás, como demonstra João Cravinho no seu livro sobre A Dívida Pública Portuguesa – O Manifesto dos 74 e as Propostas Europeias para a Reestruturação (Lx, Lua de Papel) antes da crise e até 2009-2010 Portugal tinha um rácio entre a dívida pública e o PIB praticamente igual à média da zona euro (2008) ou apenas um pouco acima desta (2009 e 2010); desde então a trajetória de divergência é cavadíssima e cifrou-se, em 2013, numa brutal distância: 129%, para Portugal, 92,6%, para a zona euro. E, por outro lado, teve lugar num período em que se cortaram salários e pensões, muito além do previsto (no programa original da troika) e daquilo que tinha sido dito aos eleitores em 2011, e em que se efetuaram extensos programas de privatizações de empresas públicas, muitas delas muito lucrativas para o Estado (CTT, restos da EDP e da Portugal Telecom, etc.). Claro que houve os défices e dívidas mais ou menos inesperados nas empresas públicas e na Região Autónoma da Madeira, mas, mesmo assim…
(...)»
(André Freire. Na íntegra: aqui)

domingo, 21 de dezembro de 2014

Pondo o dedo na ferida

"É um escândalo que um juiz que devia ser o juiz das liberdades entenda como aceitável que a par do acesso irrestrito dos pasquins à investigação a defesa não possa decentemente opor-se e contraditar porque não lhe é permitido aceder a todos os documentos e dados do processo.
"Gostaria muito de ter metade da facilidade do jornal Correio da Manhã para conhecer o processo."
(Comentários de João Araújo, advogado de José Sócrates a propósito do despacho do juiz Carlos Alexandre recusando o acesso da defesa a todos os dados que constam do processo em que é arguido o seu constituinte.) (fonte)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

"O Rambo das privatizações"


«(...)
2. Claro que ninguém trava Passos Coelho de vender a TAP. E tudo o resto. (...).
A TAP é apenas mais um capítulo da fantasia liberal apregoada por este PSD. Foi votada e, portanto, o líder segue a eito, qual Rambo das privatizações. Talvez, no entanto, a imagem mais certa seja a de um Vasco Gonçalves ao contrário. Tal como em 1974, nem ficam os "donos disto tudo", nem outros, novos, com capital nacional. Ficam os mexilhões. Pequeninos, endividados e sem nada para vender
Daniel Deusdado; "Passos, Angola e Vasco Gonçalves". Na íntegra: aqui)


Psicopatas, diz ele. Bem me parecia...

Segundo o investigador criminal Barra da Costa houve em Portugal "nos últimos anos, momentos assumidos pelos políticos profissionais e seus acólitos, que são de matriz psicopata, atentas as consequências gravosas para as populações mais desfavorecidas em termos socioeconómicos".
"Um primeiro-ministro ou um ministro das finanças não se ralam se condenam uma população à fome ou se estimulam uma guerra", afirmou, acrescentando: a "um ministro da educação que não se importa de despedir milhares de professores apenas para poupar uns tostões - esquecendo-se que um seu colega optou pela compra de um submarino, gastando nisso uma quantia que daria para pagar os vencimentos desses professores e dos efetivos, durante cinco anos - nada preocupa, desde que as suas necessidades pessoais e partidocráticas sejam satisfeitas". (Fonte)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

No reino da arbitrariedade

A manutenção de José Sócrates na situação de preso preventivamente a que vem agora somar-se a decisão de o proibir de dar a entrevista que lhe foi pedida pelo "Expresso",  sem outro fundamento que não seja a oposição por parte do senhor juiz C. Alexandre e do senhor procurador R. Teixeira, significa que, em Portugal, no que respeita ao funcionamento da justiça, estamos já no reino da pura arbitrariedade. Mas não só. Quando se corta ao detido o direito à expressão do seu ponto vista sobre o processo e se permite diariamente, na mais completa impunidade, a violação do segredo de justiça, é manifesto que os direitos de defesa consignados e assegurados pela Constituição estão a ser violados perante a passividade dos ditos magistrados. Digo passividade, mas, atendendo à natureza das informações, onde se incluem transcrições de alegadas escutas, não é de excluir, a serem verdadeiras tais informações, que em vez de passividade, se possa falar em cumplicidade, quiçá, em autoria. Como diz o povo, "quem não quer ser lobo não lhe veste a pele" e é evidente que, neste caso, atendendo a tudo o que se tem visto desde o momento da detenção até ao presente, a pele de lobo assenta-lhes que nem uma luva.
Direi mais: com magistrados destes, sorte tem José Sócrates em não existir já uma instituição que dava pelo nome de Inquisição. Gente predisposta a servi-la, parece que há.
(Imagem: daqui)

Ora toma!...



Ora toma que é para aprenderes! 
Será que aprendes?

O Professor Pal Erma


Sabe-se que o professor Pal Erma é uma personagem ficcionada que aparece com alguma frequência nas "Cartas Abertas" do "Expresso" assinadas pelo Comendador Marques de Correia, pseudónimo do jornalista Henrique Monteiro, se não estou em erro.  
Se o professor Pal Erma é para aqui chamado é porque estou convencido que o Comendador se inspirou na figura do pregador dominical da TVI para criar a personagem,  Para chegar a uma tal conclusão bastou-me assistir às duas últimas homilias proferidas pelo Professor Marcelo. De facto, o homem é capaz de agora dizer uma coisa e no momento seguinte afirmar o contrário. E, pelos vistos, também não se ensaia nada para enfeitar os seus sermões com umas mentiras pelo meio.
Tudo visto e ponderado, se calhar, dizer que o Professor é simplesmente Pal Erma é pouco. 

domingo, 14 de dezembro de 2014

A propósito de suposições

Conto-me entre os que se revêem em muitas das políticas prosseguidas por José Sócrates enquanto primeiro-ministro e que, por isso, têm por ele admiração e respeito.  Sócrates não só tinha uma visão, a meu ver, correcta para o futuro do país, como, de facto, tudo fez para a concretizar no domínio da educação, da cultura, da ciência e inovação, das novas tecnologias e das energias renováveis. Os efeitos da sua política, enquanto primeiro-ministro, não se limitaram, porém, ao desenvolvimento económico, cultural e científico do país. Em boa verdade, até no plano dos costumes se fez sentir a sua acção e essa é, porventura, uma das razões que levam a que a direita retrógrada continue empenhada em atacá-lo furiosamente e de todas as maneiras e feitios. 
Não sei se a sua recente detenção se enquadra ou não no ataque continuado que a direita lhe tem movido a partir da altura em que José Sócrates assumiu o cargo de secretário-geral do PS e se apresentou, enquanto tal, a disputar eleições legislativas fazendo frente a Santana Lopes. Não sei, mas não descarto essa hipótese. De facto, a crer no que tem vindo a ser publicado em vários jornais, incluindo o "Correio da Manhã ", que (justa ou injustamente, goza da fama e, quiçá, também do proveito de contar com informadores fidedignos junto dos operadores de justiça) a constituição de José Sócrates como arguido e a sua consequente detenção, baseiam-se, não em indícios, mas em simples suposições. O que se escreve, de facto, é que os responsáveis processuais por aqueles actos (constituição de arguido e detenção) supõem que o dinheiro e os bens sob suspeita, se bem que titulados em nome de terceiro, são pertença de José Sócrates.
Custa a crer que actos de tal gravidade sejam praticados por agentes da justiça, com base em suposições. mas a ser verdadeira a informação veiculada pelos meios de comunicação social, tal significa que a justiça em Portugal, já de rastos, desceu a um nível tão baixo que só com uma vassourada será possível o retorno a um patamar de decência.
A confirmar-se a veracidade da informação, a detenção e o encarceramento de José Sócrates não só são motivo de perturbação individual e colectiva, como impõem que se reflicta com profundidade sobre o funcionamento  da justiça em Portugal e que se tirem dessa reflexão todas as consequências. 
Não estou à espera, como é evidente, que uma tal reflexão se faça enquanto este governo, com esta ministra da justiça, se mantiver em funções. Teremos que esperar que políticos com outra dimensão, com outras vistas (mais largas e diferentes) e com sentido de Estado, tomem conta dos destinos do país. Mais uma razão para despacharmos os anões que nos desgovernam, quanto antes. Ontem já era tarde.

Quem se "lixa", afinal?

"(...)
Como pano de fundo há que acrescentar que vigora hoje em Portugal uma política fiscal injusta, que reforma o IRC, para que as empresas paguem menos impostos, e que reforma o IRS, para que os trabalhadores por conta de outrem e os pensionistas paguem mais. Antecipa-se o fim da cláusula de salvaguarda no pagamento do IMI, ao mesmo tempo que se institui uma taxa autónoma reduzida de 28% para quem possui rendimentos prediais. As isenções patrimoniais dadas aos fundos de investimento mantêm-se e isentam milhares de prédios, pertencentes a instituições financeiras, enquanto se penhoram casa[s] de habitação de cidadãos com dívidas de 1900 euros. Os mais fracos equilibram assim as contas públicas que as instituições financeiras e as grandes empresas desequilibram (...)"
(Paulo Ralha, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos; "A devolução da sobretaxa de IRS e o combate à fraude e evasão", in "Público", edição impressa de hoje. Destaques meus).

De regresso...

Não tenho qualquer ilusão sobre o escassíssimo interesse dos textos que aqui vou deixando. Ainda assim, estou de volta depois de um interrupção de algumas semanas. Por uma razão bem simples: por muito modesta que seja uma voz, como a minha, ninguém está dispensado de fazer o que esteja ao seu alcance para desalojar a corja que desde há mais de três anos tudo tem feito para destruir o país. 
Cá estou, pois, a responder à chamada. De novo.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Em tempo e modo de suspensão

Sei por que motivo. Não sei por quanto tempo. Em boa verdade, só o tempo o dirá. 

("Buda reclinado"- reprodução parcial de uma das estátuas do templo Gal Vihara no Sri Lanka)

Estavam à espera de quê?

Quando se tomam decisões como a criação dos "vistos dourados" tendo apenas em conta o dinheiro, postergando, em absoluto, os valores da dignidade das pessoas e o princípio da igualdade  de todos os seres humanos, está criado o caldo de cultura favorável ao aparecimento de surtos de corrupção, incluindo ao mais alto nível. De facto, se obter dinheiro é o objectivo último da política (e da vida?) não há motivo para admiração se alguém se convence que tudo pode ser objecto de compra e venda. Até a honestidade, a honra e o bom nome, conceitos que, na lógica do mercantilismo posto em acção, até perdem sentido.
A criação dos "vistos dourados" pode ser levada à conta de mais uma esperteza, aliás, pouco original, de Paulo Portas, mas não foi uma decisão sensata.  Desde logo, porque, como se deixou dito, gerou um clima favorável à corrupção e porque representa o triunfo do dinheiro no confronto com os valores do humanismo. Conta o dinheiro, não contam as pessoas. Também neste particular se pode dizer que o mundo anda mesmo às avessas.
(Imagem daqui)

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Está aí alguém?

Pergunto, porque ainda não ouvi uma única palavra vinda de Belém sobre o escândalo dos "vistos dourados", nem sobre a demissão do ministro da Administração Interna. Será que o cavalheiro está acordado, ou ainda ressona?
(Imagem daqui)

domingo, 16 de novembro de 2014

Avis rara

Concorde-se ou não com as opções e decisões de Miguel Macedo, enquanto ministro da Administração Interna, há que reconhecer, perante o pedido de demissão por ele apresentado, que, no seio deste governo, ele era, afinal, uma autêntica avis rara
De facto, até ao presente, é caso único neste governo. Não se conhece, na verdade, outro que tenha tido a dignidade de se demitir em função de responsabilidades políticas. Ao invés do que é habitual neste governo, Miguel Macedo assumiu as suas que, no caso, decorrem do facto de as relações de proximidade que mantinha com algumas das pessoas abrangidas pela investigação no alegado caso de corrupção na atribuição dos "vistos dourados" poderem afectar a sua autoridade como ministro numa pasta muito sensível a esse nível. Fez bem. A sua atitude, a meu ver, só o honra.
Sublinhe-se, entretanto para finalizar, que esta demissão não pode deixar de ser vista como uma lição para Passos Coelho e que pode, simultaneamente, ser apontada como exemplo a seguir, quer à ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, quer ao ministro da Educação, Nuno Crato, dois casos gritantes de irresponsabilidade política. Consentidos, é claro, pelo irresponsável mor.

Uma sorte danada...

"De Belém não veio um murmúrio". Não admira, pois ouve-se, nitidamente, cá fora, que o homem ressona.
(imagem do "Público", edição impressa de hoje)

sábado, 15 de novembro de 2014

Estupidez? Não. Descaramento!

(Extracto da crónica de Miguel Sousa Tavares, in "Expresso", edição impressa de hoje)

Olhe para a árvore, deixe lá a floresta

De acordo com o noticiado pelo Diário Económico, uma fonte governamental garantiu que o programa dos vistos gold "é para continuar" e que é preciso "não confundir a floresta com árvores podres".
Confesso que me surpreende a pressa com que a pandilha no poder "sentencia" alguns dos seus próprios membros, alegadamente envolvidos na atribuição dos "vistos dourados" e a quem são indiciariamente imputados os crimes de corrupção, peculato, tráfico de influências e branqueamento de capitais. De facto, ainda os investigados não tinham sequer sido ouvidos pelo juiz de instrução e já a pandilha os considera como "árvores podres". 
Pergunto-me se uma tal rapidez não terá a ver com as ligações perigosas de que também se fala?  Não garanto que a ideia seja essa, mas chamar a atenção para a árvore para que não se veja a floresta é uma manobra que faz todo o sentido para quem é useiro e vezeiro na prática de outras manigâncias.

Bye, bye, Coelho*

* Some-te e não voltes!
(Imagem do "Expresso", edição impressa de hoje)

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Não há fumo sem fogo?

Sofrendo de ingenuidade congénita, custa-me a acreditar que as suspeitas que levaram à detenção de pessoas como estas  tenham fundamento. Não me atrevo, por isso, a afirmar que "não há fumo sem fogo", porque, se calhar, pode haver fumo e não existir fogo. No entanto, caso se confirmem as suspeitas, então teremos de concluir que o fenómeno da corrupção alastrou na sociedade portuguesa como fogo em mato seco tocado pelo vento. A confirmar-se a calamidade, torna-se mais que urgente escolher um outro "corpo de bombeiros". O actual, manifestamente, não serve.

Um êxito indiscutível: a emigração em massa

Este governo de cabeças-de-abóbora passa o tempo a reivindicar sucessos, lá onde, a generalidade dos portugueses só descortina fracassos. Há, no entanto, um sucesso que este governo tem toda legitimidade para reclamar. Quem não se lembra de ouvir Passos Coelho e outros pantomineiros do seu governo a apontar aos portugueses o caminho da emigração?
Ora, é indesmentível que esse apelo teve um indiscutível sucesso. Para tal concluir, basta atentar nos números divulgados no relatório estatístico do Observatório da Emigração: "No ano passado, emigraram cerca de 110 mil portugueses." No ano anterior, em 2012, já tinham emigrado 95 mil. “O mais provável é que em 2014 este número volte a aumentar ligeiramente”.
Há quem, perante estes números, conclua que esta emigração é a prova mais acabada do falhanço da "política de empobrecimento" de que este governo se reclama. Trata-se, porém, de gente mal intencionada que não consegue compreender que esta debandada casa perfeitamente com a política dos vistos "gold", entregue à supervisão do vice-pantomineiro Portas. Não se está mesmo a ver que para atrair gente com "massa" é preciso fomentar a emigração em massa? Há que arranjar espaço, ou não?

Extraordinário e inacreditável!

«Diz Passos Coelho que acabaram-se com as inspeções para "justamente reforçar a capacidade de inspeção e de prevenção destes casos". Acabar com as inspeções obrigatórias para as reforçar? É extraordinário e inacreditável.» (Daniel Deusdado; "Demasiado veneno no ar" - Extracto. Destaque meu).
A meu ver, não há nada de extraordinário, nem de inacreditável  na afirmação, vindo ela de quem vem.  Extraordinário e inacreditável é o pantomineiro que a profere. 

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Mais um pódio

Sabe-se que, no tocante a desgraças, este governo tem vindo a acumular sucessivos recordes de que muito se orgulha, pois, trata-se, de uma forma ou de outra, de consequências da política de empobrecimento de que o ex-consultor da Tecnoforma tanto se ufana. 

No caso do surto de Legionella pneumophila que surgiu no concelho de Vila Franca de Xira, o governo português ainda não pode reclamar o prémio de recordista, mas já tem lugar no pódio.

É verdade, tendo em conta as afirmações de Passos Coelho, o tal ex-consultor da Tecnoforma, que o governo português não está, neste caso, interessado em reclamar nenhuma medalha, pois até já fez saber que a epidemia "não ocorreu por negligência do Estado". Não falta, porém, quem aponte para a possibilidade de a eliminação da obrigatoriedade da realização de auditorias à qualidade do ar, levada a efeito pelo governo de Passos Coelho, através de alteração do decreto de lei n.º 79/2006, ter concorrido para o aparecimento do surto epidémico.

Especialista como é em sacudir a água do capote, não admira que Passos Coelho, uma vez mais, descarte as eventuais responsabilidades do seu governo, responsabilidades que, a priori e sem mais indagações, não são de excluir. Pelo menos, para quem tenha consciência dos seus actos e noção das suas possíveis consequências. Isto, porém, já seria pedir muito ao ex-consultor da Tecnoforma. Acho eu.

Vira o disco e toca o mesmo


Vira que vira e torna a virar. Com tanto virar, onde é que a cabeça do Coelho irá parar?

"Maltratado"

"(...)
Em suma, [o Tratado Transtlântico de Comércio e Investimento (TTIP)]  é um Tratado anti-democrático e não sujeito a escrutínio, cujo conteúdo está a ser decisivamente influenciado pelas grandes empresas transnacionais ao mesmo tempo que é escondido dos cidadãos e dos seus representantes eleitos. Um Tratado que corre um sério risco de pretender nivelar por baixo as regras em matéria ambiental, laboral e de segurança do consumidor. Um Tratado que pode vir a incluir, se os Maçães deste mundo levarem a sua avante, um mecanismo de neutralização da soberania sem precedentes. E um Tratado que, se for aprovado, tenderá a condenar ainda mais a economia portuguesa ao agravamento da sua condição semi-periférica.
Deve ser travado enquanto é tempo."
(Alexandre Abreu; "Maltratado"; Na íntegra: aqui. Destaque meu)

Ou isso

Com a cabeça fora do Citius
Seja como for, em qualquer caso, mediquem-na!

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Ao menos, mediquem-na!

Se Portugal tivesse um governo a sério, é evidente que depois do fiasco que foi a introdução de uma Reforma da Justiça mal preparada pela respectiva ministra e, como tal, responsável pelo caos instalado no funcionamento dos tribunais, Paula Teixeira da Cruz já estaria, nesta altura, entretida noutra ocupação qualquer. Ministra da Justiça é que já não era, pela certa. Porém, como este governo é liderado por um indivíduo que nunca devia ter deixado de ser consultor da Tecnoforma, Paula Teixeira da Cruz não só permaneceu como ministra, como nessa qualidade, tomou a iniciativa de enviar à Procuradoria-Geral da República um relatório elaborado no IGFEJ, um instituto dela dependente, com vista à instauração de um inquérito-crime contra dois funcionários do seu ministério. Instaurado este,  foi o mesmo arquivado, em menos dum fósforo, prova mais que óbvia da falta de indícios. Num caso com estes contornos, o que faria uma pessoa, por muito ministra que fosse, que estivesse no seu perfeito juízo? Engolia a desfeita até para que a mesma mais facilmente passasse despercebida. Não foi, porém, essa a atitude de Paula Teixeira da Cruz. Empenhada em encontrar um bode expiatório para a sua própria incompetência determinou a abertura de um inquérito disciplinar aos dois elementos da PJ que trabalharam no sistema Citius, com base no mesmo relatório utilizado para a instauração do inquérito-crime.
Se o relatório é o mesmo e idênticos são os dados, suponho que a probabilidade de o inquérito disciplinar ter um destino diferente do inquérito-crime não será grande, porque, em última instância, a decisão não cabe à ministra. A ser assim, a ministra da Justiça corre o risco de, em desespero de causa, ser de novo desfeiteada.
Esse facto não deve impedir, no entanto, que a ministra, dada a comprovada falta de tino, prossiga na senda dos sucessivos dislates.
Apesar disso, perante os antecedentes, é muito improvável que o ex-consultor da Tecnoforma venha a demitir Paula Teixeira da Cruz, por muito provada que esteja a sua incompetência para lidar com o caos que, por culpa sua, se instalou no ministério da Justiça. Por isso, acho por bem, deixar aqui um apelo, para evitar males maiores. Ao menos, mediquem-na! 

Em Belém, muito para lá de Marte


(Bartoon, por Luís Afonso, in "Público" edição impressa de hoje)

O tiro que saíu pela culatra...

Paula Teixeira da Cruz que, num governo de gente normal, a estas horas já devia ter outro entretém, lá terá de inventar outro(s) bode(s) expiatório(s) se quiser sacudir a água do capote, gesto que pratica com desembaraço e desenvoltura. Como se viu. Assim fosse ela capaz de levar a cabo uma reforma da Justiça, com pés e cabeça. Infelizmente, já deu provas de que não é e infelizmente também temos um primeiro-ministro que, para nossa felicidade, ainda hoje devia ser consultor da Tecnoforma.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Onde é que o Aníbal andava com a cabeça?

Se é legítimo, como diz Cavaco que os portugueses se interroguem sobre  "O que é que andaram a fazer os accionistas e os gestores" da PT?, mais legítimo é. de longe,  que questionem onde é que Cavaco andava com a cabeça quando condecorou Zeinal Bava, precisamente a personalidade com maiores responsabilidades na gestão da PT. E não foi assim há tanto tempo que pudesse servir de desculpa para justificar o esquecimento de Cavaco, pois ainda só passaram 4 meses.
Cavaco, que é conhecido por, segundo afirmou, nunca ter dúvidas e por raramente se enganar, ou vice-versa, (o que vem a dar no mesmo) merece também ficar recordado como o presidente que é capaz de cair em contradição, como se não fosse nada com ele. Este comportamento tem um nome feio. Adivinhem qual é.
(imagem daqui)

Milagre, pela certa...

"Ninguém ainda percebeu muito bem como é que a taxa de desemprego está a baixar" (Subir Lall, chefe de missão do FMI em Portugal).
Se nem o chefe de missão do FMI compreende como é que o desemprego está a baixar, é claro que só um milagre pode explicar o caso, sendo verdade que esta explicação até nem é muito surpreendente, sabido como é que milagres no caso deste governo que tem peritos na matéria, como Portas, e pode sempre contar com a boa vontade de Cavaco, outro perito, é algo que não tem nada de extraordinário. Para esta gente, os milagres são tão banais como dias de chuva, no Inverno. Ou de sol, no Verão.

Valha-nos o euromilhões!

Cartoon ELIAS O SEM ABRIGO DE R. REIMÃO E ANÍBAL F. in JN


"Se conduzir, não beba"

"(...)
Já o que nós todos dispensaríamos era a triste figura que o ministro da Economia decidiu fazer, esta semana, na apreciação parlamentar do seu orçamento setorial. Pires de Lima tem todo o direito de criticar qualquer adversário político; e pode ser assertivo, implacável ou cru nessa crítica. Mas o tom chocarreiro que usou, no debate com os deputados da Oposição e na referência ao presidente da Câmara de Lisboa, ofende as regras básicas da conduta em funções públicas. Chalacear em casa, à mesa do almoço ou na quietude do gabinete, é lá com ele e com quem queira ou tenha de aturá-lo. Na Assembleia da República, não, em caso algum. E, se ocorrer um deslize (ninguém está livre disso), há que retirar consequências (por exemplo, apresentar desculpas).

Já temos, e bem, o lema: se conduzir, não beba. Precisaremos de ter o lema: se discursar, não pareça que bebeu?"
(Augusto Santos Silva; "O Orçamento e a sua discussão". Na íntegra: aqui)

domingo, 9 de novembro de 2014

Zeus, não bastava uma?

"O que verdadeiramente deprime é pensar que nada de essencial mudou. O Estado continua a gastar o mesmo que gastava e nem sequer entendemos para que serviram o "brutal" aumento de impostos, sustentado por cada vez menos contribuintes, a poupança feita com a retirada do RSI a 200.000 pessoas que pouco mais ou nada tinham, ou os milhões encaixados com a privatização de tudo o que restava." (Miguel Sousa Tavares, in "Expresso", edição impressa de ontem).
Mais que deprimente, a governação da actual coligação da direita é um desastre de dimensões bíblicas, pois é consequência de duas pragas com que o deuses (os eleitores) resolveram presentear-nos: Passos & Portas no Governo e Cavaco na Presidência da República.
Zeus, não bastava uma? 

sábado, 8 de novembro de 2014

Américo [Aníbal] de Deus [António] Rodrigues [Cavaco] Thomaz [Silva]

Ao ver a imagem supra vinda hoje a lume na capa do "Expresso" associei, de imediato, o nome de Cavaco Silva ao de Américo Thomaz. Porquê? Porque, de facto, a afirmação que figura na imagem significa, sem margem para grandes dúvidas, que Cavaco Silva não passa, tal como Américo Thomaz, de um pau-mandado. Américo Thomaz às ordens de Salazar. Cavaco às ordens de Passos Coelho.
Em boa verdade, há que dizê-lo, Cavaco faz até pior figura, neste particular, do que Américo Tomás. Este não tinha forma de fazer frente a Salazar, o verdadeiro e único detentor do poder durante a ditadura do Estado Novo. Já a subserviência de Cavaco perante Passos Coelho não tem, aparentemente, explicação, pelo menos, em termos constitucionais: o Presidente da República não depende, a título nenhum, do primeiro-ministro, sendo que a inversa já não verdadeira, pois além de poder dissolver a Assembleia da República, o Presidente tem o poder, observadas certas condições, de demitir e exonerar o primeiro-ministro, o que torna ainda mais surpreendente o comportamento de Cavaco.
Mas será que a citada afirmação tem o significado que aqui lhe é atribuído e faz prova da invocada subserviência de Cavaco?
Julgo que sim, mas vejamos: a sociedade portuguesa, incluindo associações patronais e sindicais, partidos da oposição e múltiplas personalidades conotadas até com a direita, tem-se amplamente manifestado no sentido da realização antecipada das eleições legislativas por razões que se prendem com a necessidade de o país dispor de um orçamento aprovado pelas forças políticas vencedoras do pleito eleitoral em condições de entrar em vigor logo no início de 2016, objectivo que coincide, sem dúvida, com o interesse nacional.
Pode afirmar-se, sem receio de errar, que se, actualmente, algum consenso existe na sociedade portuguesa é o que aponta para a necessidade da realização das eleições legislativas, quanto antes, até porque este governo, que nunca foi um governo com legitimidade, a não ser formal, nem competente, é hoje, um governo em decomposição. Tal consenso só não é partilhado pelos partidos no poder e, designadamente, por Passos Coelho que já por várias vezes se manifestou contra essa eventualidade, garantindo outrossim que as eleições só teriam lugar na data prevista, expressão que corresponde quase ipsis verbis à que agora é proferida por Cavaco.
Esta sintonia entre o agora afirmado por Cavaco e a garantia antecipadamente dada por Coelho não é, seguramente, fruto do acaso, até porque há antecedentes que apontam em sentido contrário. De facto, ainda recentemente Cavaco pediu a fiscalização preventiva da constitucionalidade de vários diplomas só porque tal interessava ao governo. A extrema urgência posta no pedido (os diplomas mal tinham saído de São Bento já Cavaco estava a assinar o requerimento) mostra, a par da sintonia aqui apontada, que, nesta altura, Cavaco não passa de um factotum de Coelho, limitando-se aquele a satisfazer as exigências deste, situação que, em termos constitucionais é absurda e inexplicável, à luz do que é conhecido.
Algo de estranho se passa para que Cavaco confunda os interesses de Passos Coelho com o "superior interesse nacional", confusão que já não é de agora, pois vem desde que este governo entrou em funções, se é que não teve início antes. Seja como for, um dado me parece certo: Cavaco vai ter um triste final de mandato e, se calhar, Cavaco até faz questão que assim seja, para não destoar do restante período em que deteve o exercício da função presidencial, período que, no final do actual mandato, perfará dez anos. Cá está um caso em que, com toda a propriedade, se pode falar de uma "década perdida", embora eu prefira falar, a este propósito, de uma "década desgraçada".Sim, desgraçada, porque a eleição e a reeleição de Cavaco foram duas autênticas desgraças.
Que mal teremos feito a Zeus para nos ter mandado uma tal praga!?

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

"Upgrade" no ministério da Economia

A nomeação de Pires de Lima como ministro da Economia, em substituição de Álvaro Santos Pereira foi apresentada pelos partidos da actual coligação governamental como um reforço do executivo de Passos & Portas. Para dizer a verdade, ainda me não tinha apercebido de que tal correspondesse à realidade, porque, de facto, nem o "Álvaro", nem Pires de Lima foram capazes de delinear uma política económica digna desse nome. Não me tinha apercebido, dizia eu. Até ontem. Depois da exibição documentada pelo vídeo supra, reconheço que a substituição trouxe ao ministério da Economia, uma assinalável melhoria: onde antes pontificava uma anedota de ministro passou a figurar um ministro-palhaço.
Ah! Por favor não culpem o vinho!

Afinal, há diferença!

«Quando, em 2015, os portugueses forem chamados a votar para escolher o novo quadro parlamentar de onde emergirá o futuro Governo, vão ter a sua decisão facilitada.

De um lado estará um centro-direita que assumiu o memorando de entendimento com a troika como o seu programa de governo e que, claramente, continua a valorizar a consolidação orçamental em detrimento da recuperação da economia; do outro lado, teremos um centro-esquerda que recuperou o fôlego com a eleição de António Costa para liderar o PS, e que parece não ter medo de assumir posições ideológicas marcantes, nem ter complexos em retomar a defesa do papel do Estado não apenas como regulador, mas também como agente impulsionador de políticas capazes de estimular o desenvolvimento. É isto que nos dizem dois documentos essenciais para se compreender e enquadrar o pensamento e a acção futura de Costa, ambos para discutir no congresso marcado para 29 e 30 do corrente: a moção Mobilizar Portugal e a Agenda para a Década, uma espécie de plano a médio prazo de onde sairá o programa de governo com que os socialistas se apresentarão às próximas legislativas.

Não podia ser mais diferente a forma como o PS se posiciona face aos seus rivais da direita. Face a um “governo esgotado”, os socialistas sentem-se fortalecidos pela “participação sem precedentes”, conseguida com a eleição de Costa como candidato a primeiro-ministro; ao isolamento da actual maioria face aos parceiros sociais, contrapõe Costa um Acordo Estratégico que “articule políticas económicas, de rendimentos fiscais, de emprego e de protecção social para garantir um quadro de estabilidade de objectivos e medidas”; enquanto a coligação se fragiliza na incerteza de uma aliança futura, o futuro secretário-geral do PS pede a maioria absoluta enquanto avisa que “nenhum conceito que vise limitar o alcance da representação democrática, como o conceito do ‘arco da governação’, pode servir para excluir sistematicamente certos partidos das soluções de governo”. Diversa é também a leitura sobre as origens da crise e a saída dela, sobre o papel da Europa e sobre a nova postura de Portugal no actual contexto europeu. Enquanto a direita incensou Barroso numa cerimónia de condecoração em que apareceu isolada, o texto de Costa, embora sem nunca o nomear, faz um retrato demolidor do seu legado à frente da Comissão Europeia.

Mas é na ênfase dada às políticas sociais e no papel do Estado que a moção mais se afasta de tudo o tem sido defendido e executado pela actual maioria. Imagina-se, desde já, o rol de críticas ao regresso do investimento público (ferrovia e transporte marítimo, um programa de requalificação urbana, o Simplex em várias coordenadas, conclusão do plano nacional de barragens…), à reposição do Complemento Solidário para Idosos, à eliminação da sobretaxa do IRS, enfim, a um Programa de Recuperação da Economia e do Emprego, “primeira prioridade” de um Governo liderado pelo PS, todo ele orientado a partir do Estado. Desta vez, tudo fica mais claro, as escolhas são mais fáceis.»
("Costa e a clarificação política" Editorial do "Público" de hoje. Destaques meus)

"Que educação queremos?"

Uma boa pergunta a que Lurdes Figueiral dá uma não menos excelente resposta. Aqui.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Quanto não vale o Serviço Nacional de Saúde ?

O caso do bebé prematuro no Dubai (uma semana de vida, 50 mil euros para pagar) em boa hora e muito oportunamente aqui lembrado pelo Tiago Barbosa Ribeiro, se faz apelo à generosidade de todos, não pode também deixar de suscitar uma reflexão sobre o nosso Serviço Nacional de Saúde (SNS). Quantos de nós já fizemos a pergunta em título? Se calhar, poucos. É bom, no entanto, que a façamos, porque, perante exemplos como o citado, a verdade é que nem sequer conseguimos imaginar o quanto perderíamos se, um dia, o SNS desaparecesse destruído às mãos de um qualquer defensor do Estado mínimo. E eles, chamem-se como se chamarem, andam por aí.
Fica a pergunta. Não é preciso resposta. Basta pensar. Nela.


Desesperadamente sós

Desesperadamente, digo eu, mas, se calhar, também orgulhosamente sós, à moda de antigamente. E parvamente, é claro.

Um défice "marcadamente superior"

... ao previsto pelo governo de Passos é o que é antecipado pelo Fundo Monetário Internacional que não só estima que o défice venha a ficar nos 3,4% do PIB em 2015, como afirma que nem em 2016 o défice estará abaixo dos 3%.
Depois de a Comissão Europeia ter afirmado não acreditar nas previsões do governo, veio agora o FMI acabar, ao que tudo indica, definitivamente, com as ilusões alimentadas pela camarilha governamental. 
Assinale-se que as previsões destas entidades internacionais acabam por estar em conformidade com as dúvidas manifestadas pelas entidades nacionais independentes e com competência na matéria, as quais, duma forma ou doutra, puseram em causa, desde a primeira hora, a seriedade dos pressupostos em que assentam as previsões do governo, designadamente, no que respeita à expectativa de crescimento do PIB.
Independentemente das opiniões já manifestadas pelas referidas entidades nacionais e internacionais, os antecedentes nesta matéria indicam que as previsões do governo não são para levar a sério, pois é um facto que o governo de Passos, Portas & Cª  nunca acertou uma única vez nas previsões que foi avançando ao longo de toda a legislatura. Nem por lá perto andou.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Um rapaz com falta de assunto


O director dum semanário como o "Expresso" a dissertar sobre a justeza da condecoração de Barroso por Cavaco, invocando em abono da sua tese que "Formalmente Portugal tem obrigação de reconhecer [sem mais] o trabalho de Durão barroso (sic) em Bruxelas" e que "as democracias assentam em muitas formalidades" é porque, manifestamente, é um rapaz com falta de assunto.
Aparentemente, Ricardo Costa dá sinais de que está a precisar, também ele, de ser "condecorado" com uma qualquer sinecura, porque como director do "Expresso" já terá dado o que tinha a dar.

O condutor em contramão

«(...) Crato (...) disse que a educação ia na direcção certa e ofereceu-nos um discurso absurdo, próprio do condutor que entra na autoestrada em contramão e se queixa dos outros, todos, que acusa de estarem na faixa errada.
(..) 
Vejamos, em síntese, o despudor com que se elogiou.

Reforçou os conhecimentos essenciais dos alunos? Que são conhecimentos essenciais? Em que evidências se apoia para dizer isso? Há uma evidência, sim: queimou tudo o que é de raiz personalista e pública e promoveu a educação-mercadoria e privada.

Reforçou a avaliação externa? Fez os piores e mais iníquos exames de sempre, cujos resultados desmentem o que disse.

Valorizou o ensino profissionalizante? Eu digo de outro modo: elitizou o ensino, mandando crianças de 12 anos, com dificuldades, aprenderem uma profissão que não lhes dará emprego.

Aumentou o acompanhamento dos alunos com dificuldades? Como? Reduzindo professores de apoio, disciplinas, financiamento, todo o tipo de auxílios e complementos ? Mesmo para a mentira há uma "ética". Respeite-a, quando mente com tal despudor.

Valorizou a qualidade da docência? Varrendo a formação contínua? (...) Despedindo em massa? Promovendo um concurso de vergonha sem fim ? Tratando os professores como peças de um sistema acéfalo?

Deu maior autonomia às escolas? Qual? A que ninguém vê e o Conselho das Escolas lhe jogou à cara em documento que, num país decente, o demitiria ou ao conselho ? A que resulta das estúpidas metas curriculares (...)?

Aumentou a competitividade internacional do ensino superior e da ciência? Com a fraude da avaliação dos centros de investigação, que todos aniquilaram fundamentadamente, Conselho de Reitores por último? (...)»

(Santana Castilho; "A direcção certa do ministro, o bloqueio e o multilinguismo", in "Público", edição impressa de hoje,)

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Quem é que errou? Quem é que é preguiçoso?

Para Passos Coelho, 
«...fácil foi lançar a toda e cada pessoa que o criticou o desafio de "assumir que errou, que foi preguiçosa, que não leu, que não estudou, que não comparou, que não se interessou".

A haver alguma verdade naquela frase - e há - é exactamente o oposto do que pretendia dizer Passos Coelho. Um português, qualquer um, não é preciso ser comentador nem jornalista, só pode tolerar tão pacatamente os sucessivos erros, hesitações, equívocos e efabulações a que tem sido sujeito não tanto porque não lê, não estuda, não compara mas, acima de tudo, porque não se interessa o suficiente.
(...)
 Bom, a ignorância pode ser uma bênção. Sempre nos poupa a irritação. Porque se nos pomos a querer saber corremos riscos importantes.

Podemos descobrir que Fundo de Resolução, por força do artigo 153.º-B do RGIC (é googlar) é uma pessoa colectiva de direito público e que, portanto o Fundo é do Estado, mesmo. Sim, fomos nós que salvámos o BES. Podemos descobrir que a proposta de um tecto para as prestações, assente na ideia de que temos tantas e tão generosas prestações sociais, desde logo o RSI, que desincentivam o trabalho esbarra nos números: os dados da segurança social, de inícios de 2013, apontam para valores de 84,53€ por pessoa por mês. Uma vergonha, e muito abaixo do limiar da pobreza.

Ou podemos descobrir que, como explica o INE, a despesa em saúde caiu em termos gerais, e essa queda resultou, acima de tudo, de um recuo do Estado, excepto nas transferências para os hospitais privados onde a despesa subiu consideravelmente. Ou, então, que uma suposta reforma do IRS supostamente pensada durante meses é alterada quatro vezes em dois dias, ao ponto de o responsável técnico pela mesma falar de uma "salganhada" e que a probabilidade de se cumprir a promessa de devolução da sobretaxa em 2016 não é, nas palavras de Eduardo Catroga, "muito grande".

Exemplos, apenas. Se nos interessamos damos com o óbvio. Que quem tem de "assumir que errou, que foi preguiçosa, que não leu, que não estudou, que não comparou, que não se interessou" não é a população, é quem a desgoverna. (...).»

(Marco Capitão Ferreira; "E se nos interessamos?". Na íntegra: aqui. Destaque meu).

Chumbo no "bom aluno"

Não sou só eu. Há mais quem não acredite "nas previsões orçamentais do Governo. Nas contas de Bruxelas, o défice orçamental em 2015 será de 3,3% - e não de 2,7% como antecipa o Executivo - e a dívida de 125,1% do produto interno bruto (PIB). Ambos os indicadores ficam acima das previsões do Orçamento do Estado para o próximo ano."
(Notícia e imagem daqui)


Verde, mas pouco

(Cartoon ELIAS O SEM ABRIGO DE R. REIMÃO E ANÍBAL F. , in JN)

Apetro reitera subida de 6 cêntimos na gasolina e 5 no gasóleo em Janeiro

(O humor de mãos dadas com os factos)

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Grandes festejos em S. Bento e em Belém

A política de empobrecimento levada a cabo pelo governo de Passos e Portas, com a bênção de Cavaco, continua a somar sucessos sobre sucessos. Se duvida, veja esta notícia da qual respigo estes extractos:

- "Portugal caiu para o grupo dos dez países europeus com pior classificação na área da Educação, descendo do 33º lugar, que ocupou em 2012, para o 47º no ano passado, segundo o Índice de Prosperidade do Legatum Institute."

- "Na área da Educação, Portugal está agora abaixo de países como a Mongólia, Montenegro, Emirados Árabes Unidos ou Rússia." 

- "Na área da Economia, Portugal passou para segundo pior classificado na Europa ocidental, atrás da Grécia e está agora atrás de países como Argélia, Colômbia, Marrocos ou Latvia."

- "Caiu de 91% em 2011 para 82% a proporção de pessoas com acesso a comida e abrigo, o valor mais baixo desde sempre."

Como se vê por estes apontamentos (na fonte, há mais) os festejos vão ser de arromba. Conseguir que o número de pessoas com acesso a comida e abrigo seja o mais baixo desde sempre e ser batido por países como a Mongólia e o Montenegro na área da Educação e por países como a Argélia, Colômbia e Marrocos na área da Economia, não é feito ao alcance de um governo qualquer. Tem mesmo de ser um governo fortemente empenhado no empobrecimento generalizado da população.
Acho até que, perante o brilhantismo do desempenho deste (des)governo, Cavaco devia ter aproveitado a cerimónia da condecoração ao fujão Barroso, para agraciar também a dupla Passos/Portas. Se Barroso a (des)merecia, estes dois não lhe ficam atrás em (des)merecimento.

Uma nulidade chamada Cavaco Silva, Presidente da República

"Acha que o Presidente está a ser parcial?
Completamente, com este Governo. O que é muito grave para o funcionamento do sistema. A grande vantagem do sistema semipresidencial é precisamente não apostar tudo no vector parlamentar e governamental. É ter outro órgão com legitimidade democrática plena que pode fazer o balanceamento e desempenhar o papel de moderação..
Quando o Presidente se alinha completamente com o Governo e contra a oposição, perde todas estas faculdades e deixa de acrescentar alguma coisa de positivo. Nestes últimos anos, é como se vivêssemos em sistema parlamentar. O Presidente não acrescenta absolutamente nada."

(Extracto do texto duma entrevista dada pelo constitucionalista Jorge Reis Novais publicada hoje no "Público", edição impressa. Destaque meu.) 

Que grande confusão vai naquela cabeça!


Isto dito por Durão Barroso na cerimónia de imposição da condecoração atribuída por Cavaco significa que o fujão barroso anda a fazer grandes confusões. Se o fujão acredita mesmo que a opinião de Cavaco coincide com a do povo português, o melhor que tem a fazer é tratar-se.
 E quanto mais depressa, melhor.
(Notícia e imagem daqui)

sábado, 1 de novembro de 2014

A mentir descarada e continuamente desde 2011. Pelo menos.

"A 16 de Junho de 2011, por ocasião da assinatura do acordo de coligação com o CDS, Pedro Passos Coelho reafirmava aquilo que já tinha repetido algumas vezes em jeito de promessa eleitoral: "Não usaremos nunca a situação que herdámos como uma desculpa para aquilo que tivermos de fazer. Daremos, por uma vez, um bom exemplo de poupar ao país durante meses o exercício de evocar a circunstância que herdámos. O país conhece-a, e conhece-a suficientemente bem para não ter tido nenhuma dúvida quanto à necessidade de mudar e de mudar profundamente". Mais adiante reforçava que o Portugal tinha todas as razões para estar tranquilo porque iria ter um governo que "não se vai desculpar com o que aconteceu antes nem com as dificuldades do presente para entregar o resultado que os portugueses querem receber".

Ao fim de pouco mais de três anos, este compromisso solene - quiçá por preguiça ou patetice - mereceu o mesmo destino de todas as outras promessas, isto é, o caixote do lixo.

Nos últimos dois dias, durante o debate do Orçamento do Estado, lá foi o passado trazido, mais uma vez, para o presente em nome, imagine-se, da pesada herança ou, para citar Paulo Portas, "tal era o pesadelo que vocês [socialistas] nos deixaram".

Por entre fantasmas e assombrações, o vice-primeiro-ministro acabou por confessar que a atual maioria não tinha alternativa senão pedir sacrifícios. Com esta afirmação Paulo Portas descaiu-se e, se dúvidas restassem, fez cair a máscara de Pedro Passos Coelho. Descodificando, aquilo que o líder do CDS está a dizer é que o atual primeiro-ministro, enquanto líder da oposição e candidato à chefia do governo, sabia que aquilo que prometia em matéria de impostos, salários e pensões, a troco de votos em 2011, não era para cumprir e, por isso, mentiu deliberadamente aos eleitores.
(...)
Vejamos então: será por culpa do governo anterior que o caos se instalou nos tribunais com o crash do Citius, o sistema informático da Justiça? Terá sido por causa do "pesadelo" socialista que ainda hoje centenas de alunos não têm os professores todos colocados e, por isso, não têm aulas? Terá sido por responsabilidade de quem esteve no poder até 2011 que Vítor Gaspar se demitiu de ministro das Finanças assumindo em carta pública que a receita tinha falhado e que, por isso, já não tinha credibilidade para continuar? Serão os governos anteriores responsabilizáveis pelo fracasso constante no cumprimento das metas do défice e pelos erros de previsão na evolução da trajetória da dívida pública portuguesa? E será por delito das anteriores maiorias que a economia não cresceu como prometido pelo primeiro-ministro logo em 2012 e depois em 2013 e que o PIB caiu em nove trimestres consecutivos?
(...)"
(Nuno Saraiva; "A pesada herança"; Na íntegra: aqui. Destaques meus)

Felizmente e ao contrário dos profissionais da aldrabice, "Os números não mentem"



sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Qual é a pressa?


Apesar de António Costa já ter definido, por mais de uma vez, qual o calendário e quais as várias (3) fases para apresentação das suas propostas, calendário que culminará com a apresentação do programa eleitoral do partido, raro é o dia em que não aparece um qualquer bicho careta, vestido com as cores do PSD ou do CDS a exigir que Costa apresente as suas propostas sobre tudo e mais alguma coisa. Hoje, então, foi um corropio. com vozes a reclamar explicações, dentro e fora do Parlamento, o que não deixa de ser estranho. Por duas razões. À uma, porque no Parlamento a direita no poder (por obra e graça de Cavaco e duma senhora que dá pelo nome de Aldrabice) teve hoje a oportunidade de ouvir de vários deputados (e designadamente de Ferro Rodrigues e de Vieira da Silva) algumas das ideias que o PS quer concretizar se o eleitorado o convocar a ser Governo, ideias de que, pelos vistos, a direita (PSD e CDS) não gostou, se atentarmos nas reacções vindas dessas bancadas, como se pode comprovar aqui e aqui).
Por outro lado, também não se compreende o porquê de tanta pressa por parte da direita, quando se sabe que, por vontade dos dois partidos da coligação, a realização das próximas eleições legislativas, se tal poder estivesse nas suas mãos, seria adiada, não apenas para Setembro/Outubro do próximo ano, mas sim lá mais para as calendas gregas.
Com espírito construtivo, deixo aqui uma sugestão:
Se estão assim tão interessados em conhecer em pormenor as propostas do PS e as políticas que este partido se propõe levar a cabo caso seja encarregue da governação do país, então juntem-se à multidão dos que reclamam a realização, quanto antes, das eleições legislativas. Se têm muita pressa em conhecer as propostas do PS, metam também pressa numa ida até Belém: Cavaco é duro de ouvido em relação ao clamor do povo, mas tem ouvido afinado para as ordens de Coelho. Aliás, em bom rigor, Coelho nem precisa de abrir a boca. Se Coelho lhe der a entender, por sinais, o que pretende é quanto basta para Cavaco obedecer.
(Os meus agradecimentos à Emys orbicularis, por ter aceite servir de ilustração a este texto.) 

Em decomposição acelerada



É, designadamente, o caso do ministério da Educação, às mãos de Nuno Crato: Diretor-geral do Ensino Superior é a terceira saída na Educação em 41 dias.

É um supor?

Mas não só, acrescento eu. Para um pantomineiro, como Passos, tudo é um supor. Espanto é que ainda haja por aí quem suponha que Passos é indivíduo para levar a sério. 

A Suécia está de parabéns!

A Suécia, ao reconhecer a independência da Palestina, prova que ainda há Estados e governantes que se regem por princípios. Tratando-se de algo raro nos dias que correm, todo o realce dado ao acto de reconhecimento por parte da Suécia é mais que justificado. 
(Fotografia obtida a paartir da edição impressa do "Público")